John Martin, um cirurgião vascular norte-americano, certo dia acordou com uma desconfortável e estranha sensação de espessura na região da garganta. Como ele vinha testando um gadget de ultrassom portátil, decidiu colocar o aparelho à prova. Passou gel no local e fez uma varredura com o auxílio de um iPhone, que revelou uma massa incomum de cerca de 3 centímetros. Mesmo não sendo especialista, notou que aquilo não era para estar ali e consultou um oncologista, que confirmou um câncer de células escamosas.
O aparelho utilizado chama-se Butterfly IQ e dispara som pelo corpo para receber os ecos de volta. As ondas sonoras, que são criadas por meios da vibração de um cristal nas máquinas tradicionais, aqui funcionam por meio de 9 mil pequenos tambores acoplados a um chip semicondutor. E isso é convertido em imagens pelos smartphones da Apple.
Posteriormente, Martin passou uma cirurgia de 5 horas e meia e tratamento de radiação. "Olhar para isso como apenas um dispositivo de ultrassom é como olhar para um iPhone e dizer que é apenas um telefone", elogiou, já melhor.
John Kendall, diretor de ultrassonografia no departamento de emergência do Denver Health Medical Center, é um dos conselheiros da fabricante Butterfly Network e diz que o conteúdo criado pelo dispositivo é tão detalhado quanto o produzido pelos grandes aparatos convencionais. E, considerando o custo e o tamanho, é uma solução interessante para realizar exames, ainda que não seja preciso ou poderoso como o original. “Não é nem o mesmo gênero de máquina”, acrescentou.
Startup deve vender o aparelho em 2018
O Butterfly iQ foi liberado pelo órgão regulador estadunidense FDA (Foods and Drugs Administration) para ser usado em 13 aplicações clínicas e tem previsão de distribuição comercial a partir do próximo ano, com pré-venda ainda nesta temporada, a quase US$ 1.999 (cerca de R$ 6.500, sem taxas).
Um preço bem inferior aos concorrentes Philips Lumify, que usam os tradicionais cristais e são mais direcionado aos profissionais. Com um adicional custo mensal, esses gadgets da Philips saem por US$ 6.000 (aproximadamente R$ 20.000, sem taxas).
A Butterfly Network, que já levantou mais de US$ 100 milhões para financiar a produção, foi criada por Jonathan Rothberg, empreendedor especializado em mesclar semicondutores ao setor de biologia — ele anteriormente inventou um método capaz de realizar sequenciamento de DNA a partir de um chip. O Butterfly iQ demorou 8 anos para virar um produto e ao invés de cristais utiliza pequenos emissores ultrassônicos em camadas — a estrutura é um pouco maior do que um selo postal.
Aparelho pode incorporar inteligência artificial
A meta para o futuro breve é combinar o gadget com softwares de inteligência artificial, que poderiam ajudar leigos e novatos a coletar as imagens certas e interpretá-las. Já para o próximo ano a companhia acredita que será possível calcular automaticamente quanto sangue o coração está bombeando e detectar problemas como aneurismas aórticos.
Obviamente, há uma certa resistência de hospitais tradicionais, já que o ultrassom é um investimento pesado e sempre foi manuseado por técnicos. Mas esse tipo de exame tem se tornado mais rotineiro e os médicos têm utilizado para observar rapidamente alguns órgãos em salas de emergência, como alternativa para os raios-x.
Para Kendall, a evolução do aparelho e as variações dele podem se transformar um equipamento fundamental para equipes de ambulância e pacientes em regiões remotas. “Essa capacidade de adquirir uma imagem (do corpo) e saber o que você está vendo está chegando", diz.
Fonte: TecMundo